Esse blog sempre carregou a ideia de ser aberto para vocês apresentarem suas ideias e falar sobre suas experiências, seja de treinos, viagens e reflexões; mas de uns tempos pra cá esse espaço anda esquecido. A participação de vocês é o que mantém esse blog ativo, então vamos voltar a viver esse lugar que tem tanta história! O "Fala tracer" está de volta, dessa vez com Daniel Ribeiro falando um pouco de sua trajetória. Um cara que admiro pra caramba. =)
Se quiser participar do próximo fala tracer, fala com a gente pelo grupoparkoursalvador@gmail.com ou diretamente comigo Gustavo Ivo. No mais, comente, critique, elogie..é isso que mantém a gente motivado em continuar escrevendo...Sem mais, Fala aí, Daniel!
" Mais do que força é preciso ter uma mente absurdamente focada para se concluir um desafio ou passar por cima de um obstáculo. De alguns longos dias para cá eu refletindo sobre minha trajetória, sobre as mudanças que o Parkour me trouxe, eu pude perceber grandes e belas mudanças. As físicas são muito importantes, mas as mentais são superiores.
Eu me lembro o quanto eu era fraco, fraco mesmo, me lembro muito bem que não conseguia fazer nem 5 flexões e nem correr uns 1 km sem botar o bofe pra fora. Mas não me importava tanto, eu achava muito mais fácil e bonito fazer um monkey, uma precisão, ter uma movimentação foda. Eu não tinha ideia do que era realmente "ser forte e útil" e muito menos de "ser e durar". Meu negócio era assistir vídeos e sair pulando muros sem nem saber absorver meu impacto, o que me causou algumas lesões. Só aí entendi e aprendi o quanto o ato de fortalecer o corpo era e é essencial na pratica de qualquer atividade física e pra todo ser humano.
O problema é que não estava acostumado a fazer físicos, nem correr nem nada que me causasse dor, cansaço e que me tirasse do conforto. Era estranho ter que fazer séries de flexão, de barras, passar longos minutos correndo, mas que estranho era algo doloroso. Acredito que toda mudança seja de certo modo dolorosa, cansativa e de muita paciência. Eu me achava um lixo por ver meus companheiros de treino fazerem séries de 50 flexões e eu com muito esforço uma de 20. Era ridículo. Mas até aí eu só precisava ficar forte basicamente pra suprir minhas necessidades físicas e nada além.
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| Desafio das 1000 barras debaixo de chuva. Concluído em 3h 30min. |
Os dias vão passando, os amigos de treino mudando, as ideias sobre ser "forte e útil" e "ser e durar" sendo difundidas mais fortemente no meio do parkour brasileiro, e eu abrindo mais a cabeça. Depois de muitas conversas, ler muitos textos, depois de ter belos exemplos; tomei tendência. De uns dois anos pra cá parei bruscamente de buscar tentar tornar os meus movimentos mais bonitos, de tentar fugir da dor, do cansaço. Parei de treinar apenas pra mim e passei a me preocupar com os outros. Passei a treinar pra ser útil. Claro que esta transição não foi fácil. Nunca é. Você apanha todos os dias de você mesmo. De alguém falando que tem um caminho mais fácil, que não é preciso sacrifício, que você não precisa ficar forte, pular muro e largar o amigo na merda resolve. Lembro-me nos treinamentos do curso de bombeiro civil onde a força e a resiliência são indispensáveis, onde não há espaço pra "estou cansado", "meu braço ta doendo, não da pra segurar a vitima", "meus braços estão cansado, não aguento mais fazer compressão cardíaca". A ideia de estar despreparado fisicamente e mentalmente para ajudar alguém começou a me assombrar muito. Aí sim comecei a trilhar meu caminho no Parkour, comecei a ter uma noção do que ele representa, de como é fundamental manter um equilíbrio entre pular muros, fazer movimentos e estar forte, resistente e apto a ajudar alguém.
E creio que o mais importante seja conseguir perdurar todas as aptidões físicas até o findar da vida. Desejo muito e to trabalhando para ser um velho que consiga ajudar os netos a abrir a tampa da garrafa de refrigerante, carregá-los nas costas e etc. Enfim, ser forte e útil, mas sendo e durando."
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