17 de abr. de 2015

Força e Técnica - Parte I

Escrito por Gustavo Ivo

Primeiro gostaria de dizer que não sei se esse é o momento certo pra eu escrever sobre isso, é um tema que não creio que tenho muito embasamento para falar, mas vou aproveitar o bonde de outros debates, pra compatilhar esses pensamentos.

Nos últimos meses tive uma mudança de comportamento com meus treinos. Depois de experiências que tive treinando em situações adversas, fora de minha zona de conforto, percebi que eu era extremamente fraco. Fraco fisicamente. Meu coração disparava, respiração descontrolada com alguns flows e corridas mais intensos, e não aguentava segurar o landing em drops um pouco maiores, entre outras coisas.

Além dessa percepção física, também houve uma percepção filosófica sobre parkour: por quê, para quê, treinamos? E nesses momentos vieram a minha mente o texto "Um chamado a luta" de Blane, em que ele questiona:

"Quando foi que fazer uma travessia de 30 metros pendurado com uma criança ficou menos importante que um salto qualquer de 18 pés com uma aterrissagem grotesca? Não tô nem aí pra seus saltos longos e barulhentos, aquele cara de 43 anos tem duas vezes sua idade e é duas vezes mais forte..e dropou de 2 metros em completo silêncio."

Quando foi que o parkour deixou de ser o desafio de chegar àquele lugar para ser o movimento? 

Daí comecei a achar um absurdo não conseguir atravessar um muro de cat, a subir e descer em árvores, a correr 10km...coisas que deveriam ser, ao meu ver, básicas pra uma pessoa, porque reflete nossa condição biológica física a qual fomos condicionados durante tantos séculos passados. Comecei a fazer umas comparações malucas (coisas que não necessariamente foram reais historicamente), como imaginar os super treinos dos guerreiros da antiguidade, espartanos, monges, as condições em que guerreiros corriam dias, batalhavam 12h por dia sob sangue, suor, fezes..e com o risco real de perder a vida a qualquer momento... E eu aqui não consigo me pendurar nessa porra de muro por 2 min? Isso me frustrava


A partir daí comecei a colocar rotinas físicas num nivel muito maior que antes, caba machos todos os dias, sallys, estáticos de dezenas de minutos, desafios com centenas/milhares de repetições, corra pop corra,tabatas, air alert, etc...


Treinozin com Dan Danvis...

Imbuí

E, pra chegar no ponto desse texto, eu senti uma perca grande na técnica dos movimentos do parkour. Não consigo mais direito pensar as relações com o espaço, explorar, saber onde chego na precisão ou não, a fluidez dos vaults. Essas coisas enferrujaram. Eu já sabia que isso ia ocorrer, mas, por escolha e identificação, resolvi sacrificar essa parte por outra.

A minha mentalidade do parkour saiu um pouco desses aspectos de exploração do espaço para a "resistência, sobrevivência, autonomia, utilidade".

Não treino mais na rotina flows, precisoes técnicas, vaults..minha cabeça e corpo pensam melhor voltadas puma coisa de cada vez. E até porque não tenho vontade, já não me admira tanto o movimento per si. Então eu sinto que agora não é o momento de treinar essas coisas, mesmo que houvesse uma forma de conciliá-los, esse "desequilíbrio" é a busca por equilíbrio.

Gosto de pensar que estou reformando a base da pirâmide, maior a base, maior a pirâmide.

As técnicas são repetições e estudo. É algo que posso reconstruir de forma mais independente, demora, mas não requer tanta pressa quanto essa base física (a qual é mais dependente, por causa do "envelhecimento") . Questão de fazer meu corpo relembrar. A refinação e polimento podem demorar mais; mas vejo a questão física muito mais demorada para se construir.

Sacrifico a técnica em prol da força. Mas, acima de tudo, acho que essa forma de treino foi moldando outra coisa dentro de mim: o espírito.

Mas aí já é papo pra outro texto...


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