26 de mai. de 2015

O Tesouro dos Muros!


Caça ao Tesouro! Quem nunca brincou disso? Em quebrar a cabeça e se aventurar em busca de um tesouro.
Uma super brincadeira com todos os praticantes de parkour da cidade.
Forme sua equipe e venha se aventurar, desafiar-se em busca do TESOURO dos muros.
- Onde: Parque Costa Azul
- Quando: Sábado - 30/05 - 15:00
- Como funciona?
Forme uma equipe de 3 pessoas.
Prepare-se. Serão uma série de testes relacionados ao parkour. Eles podem ser físicos, psicológicos, raciocínio lógico, interpretação de textos, e até de conhecimento (história, técnicas, treinamento, etc).
As instruções do jogo serão repassadas completamente presencialmente no horário do evento, lá no parque.
(Não se preocupe se não formou seu trio ainda, vá no dia e forme seu treio lá, na hora! :D)
Realização: ABAPK - Associação Baiana de Parkour
Apoio: DECIMADOMURO
Contato
Gustavo Ivo 92752977
Daniel Ribeiro 91458218
Confirme no Evento:aqui
20 de mai. de 2015

Planches - 1002: Parte II

Dando prosseguimento à série de textos sobre o desafio, dessa vez, o depoimento - intenso - de Daniel Ribeiro.

Parte I: Aqui

Fotos noturnas por Juliana Fajardini.



Aceitar sua condição e existir, insistir e lutar, mesmo que pacificamente, é prevalecer.   

      (Daniel Ribeiro)


1002 Planches


Só hoje, 20 dias depois, resolvi terminar de escrever sobre o desafio mais exaustivo, tanto físico e mentalmente que já fiz. É muito difícil tentar expressar com palavras o caminho que percorri neste desafio, mas farei o máximo. 

  • O desafio inicialmente não era, nem de longe, os 1000 planches. 

Tudo começou com uma conversa depois de um treino que rola aqui em Salvador, apelidado de "Treino de embrutecimento", no qual eu, Gustavo e Wesley estávamos decidindo o nosso desafio do mês, como de costume. Como todo mês escolhemos um desafio baseado no número do mês, e sendo este abril, deveríamos escolher um desafio com que fosse relativo ao número 4. Assim, sugeri fazer o desafio dos 400 planches. Pronto, a ideia era idiota, e per si, foi automaticamente aceita. 

Marcamos a data e assim cada um continuou com suas vidas. Nesse meio tempo entre o desafio, creio que uma semana, não me recordo, fui vendo e lendo alguns vídeos e textos sobre desafios com planches/muscle ups. Precisava ter um pouco de noção de como deveria me manter no desafio, quantas repetições faria, o descanso, alimentação e etc. A partir desse momento a semente do mal já tinha sido semeada em minha mente e eu já pensava em não parar nos 400 planches. Conversando com Gustavo ele me revelou que também não tinha essa intenção. Novamente, juntos. 

Logo após ter assumido o desafio dos 1000 planches o medo, o receio, a incerteza e uma agonia incessante me lançava arduamente num limbo de inquietude. Eu me sentia ansioso e ao mesmo tempo queria adiar permanentemente o desafio. O medo do desconhecido, neste momento, me assombrava. Neste momento percebi que minha mente faria um papel crucial no desafio, talvez maior que meu corpo. 

Faltando um dia para o desafio não treinei, não fiz nada, apenas comi e tentei descansar. Dormir foi algo complicado, eu rolava de um lado para o outro da cama e o sono não vinha. Vi o dia clarear e faltando umas 3 horas para sair de casa peguei no sono. Esse foi meu descanso. Ouvi o celular tocar o alarme e acordei, levantei tonteante e atrasado. Só peguei dinheiro, coloquei uma roupa e saí. O dia estava fechado e já tinha chovido, foi um alívio, não queria sofrer debaixo do sol. Cheguei primeiro no pico, umas barras que tem na ondina, em frente à FSBA, e esperei por Gustavo, que veio correndo. 

  • O começo do desafio foi uma mistura de sentimentos bagunçados. 

Não sabia o que me esperava, só pensei em começar e terminar o mais rápido possível. Damos início ao desafio às 10:30, confiantes que acabaríamos antes das 19:00. Eu, Gustavo e João que estava com a gente, mas fazendo seu desafio de barras. Começamos e cada um foi anotando suas repetições em um caderninho. 

Eu e Gustavo concordamos em fazer 2 repetições por minuto e continuar assim até onde fosse possível. Foi assim, de dois em dois, e logo passamos dos 100. A mão de Gustavo, rasgada, já tinha mostrado que não seria fácil manter o corpo intacto. Entre os 200 o sol resolveu aparecer junto com Felipinho e Wesley e o desafio ganhou mais energia. Minha mão, ainda estava bem, sem calos abertos ou dores, mas eu sabia que não seria assim por muito tempo. Passando pelos 300, eu já tinha perdido muito líquido e estava sofrendo com o sol que tinha ficado mais forte. Chegando nos 400, o peso do corpo já parecia ter aumentado e a mão já parecia que iria se rasgar a qualquer momento. 




Enfim os 500 planches, estava na metade e meu corpo deu um leve suspiro. Já tinha percorrido a metade do caminho. Minha mão já estava com alguns calos abertos e algumas hora ou outra outros estouravam, não demorou e minha mão estava totalmente aberta. Comecei a beber mais água, mas ainda assim não recuperava, estava perdendo muita água e já me sentia fraco. Passando pelos 600 uma guerra que eu estava evitando começou a se levantar. Nesse momento eu comecei a sentir raiva, pensava em parar e cada repetição era como se eu puxasse o mundo junto comigo. Eu mal falava, só suava, sentava, dava duas respiradas e voltava a puxar dois planches. Foi assim até os 700, aqui eu e Gustavo paramos e descansamos 20 minutos. Resolvi tomar um banho na praia e deitar um pouco, burrice! A água salgada fez minha mão queimar em ardência. Deitado, só sentia uma vontade grande de parar por ali e voltar para casa. Uma parte de mim gritava com a outra, uma tentava jogar a outra no chão, uma tentava se impor a outra. Garrei no sono. Acordei com Wesley me chamando e de alguma forma, estava me sentindo melhor. 


  • Aqui, em direção ao fim, pensando em desistir, começou meu desafio. 

Aqui entre os últimos 300 planches começou meu diálogo interno e minha guerra pacífica. Aqui eu escolhi arcar com toda dor, todo cansaço e talvez com alguns danos físicos. Aqui eu escolhi o que eu seria e o qual parte de mim eu deixaria vencer. Aqui eu lembrei dos que já tinham feito, dos que estavam fazendo, dos que não quiseram fazer e dos que não puderam fazer.
Aqui eu resolvi suportar tudo, pelos que estavam ali comigo e porque ali, naquele momento, eu só tinha a barra e meus amigos. 

Eu já estava sofrendo e parar, sair, desistir não faria essas dores pararem. Meu corpo estava quebrado, mas meu espírito estava intacto. Consegui aumentar minhas repetições de 2 para 4 e até 5 e fui assim até os 900 planches. 

Juntos
Os 100 últimos. Então chegou o fim. Já tinha passado das 19:00 horas e eu não me importava mais com o tempo, estava desapegado de tudo, já tinha encarado e aceitado a dor em meus braços e minha mão não me incomodava tanto assim. Incomodava ver Gustavo exausto e cambaleante, cada repetição que fazia eu dedicava a ele. Eu sentia o sofrimento dele ao puxar a barra, sentia o cansaço dele e isso deixou minha última centena agoniante. Ele estava faltando alguns planches para chegar nos 900 e eu já estava fechando os tão esperados 1000. Faltando 30 planches resolvi não descansar tanto, fazia um, andava uns 30 metros e fazia de novo. Gustavo resolveu fazer o mesmo e assim, depois de 10 horas, eu conclui o desafio fazendo 1002 planches. 

Fiquei feliz, abracei Gustavo, mas não tinha forças para comemorar. Resolvi que faria planches até onde aguentasse para acompanhar Gustavo e assim continuei, não demorou muito e cheguei no meu limite e nesse momento meu corpo já não estava mais com Gustavo. Só minha mente o acompanhava naqueles últimos planches. Gustavo terminou umas 2 horas depois, exausto e emocionado. 

De fato, este foi o desafio mais duro, difícil, longo e cansativo que já fiz. 



Não o faria de novo, nem recomendo. É um desafio que não requer apenas um condicionamento bom, ele vai te minar e antes que perceba você já não terá forças físicas para se suportar em pé. Foi a maior batalha de minha vida, mas foi uma batalha que valeu a pena. Só consegui reforçar virtudes e ideias que tenho carregado comigo há algum tempo. Meu corpo, 20 dias depois ainda carrega as marcas nas mãos, mas já estou recuperado e sem lesões. Mantenho meu legado intacto, sempre que me colocar em prol de alguma coisa ou de alguém, seguirei, passo a passo, enfrentando minhas ilusões e meus medos, buscando alcançar o objetivo proposto. Uma ressalva, o desafio acabava nos 1000 planches, mas fiz um para a sociedade de parkour e outro para Gustavo que se manteve até o final comigo. 

  • Enquanto estiver vontade, meu espírito erguerá meu corpo, enquanto estiver vontade, mesmo com o corpo quebrado, eu me erguerei










Engole

a dor


Ergue-se

resoluto.


Impávido.

Sereno.

Bruto.


(Juliana Fajardini)

 
13 de mai. de 2015

Planches - 400: Parte I

Primeiro texto de Wesley em nosso blog. E, já de cara, um relato e tanto.

Dia 25 de abril havia sido marcado um desafio, e a seguir você vai acompanhar uma série de textos de quem passou por essa experiência.


Planches - 400 - Parte I

Texto por Wesley Santos

Ontem fui fazer o desafio dos 400 planches. Ou assim eu achei que este seria o desafio até chegar lá. Logo após cumprimentar meus amigos, fui questionado:

-“Vai fazer 400 ou fechar 1000 também, Wesley?”.

Bem, já estava ali, por que não tentar, né? Prontamente respondi que faria até onde conseguisse. E assim comecei meu desafio.

Cheguei atrasado, logo não foi possível começar o desafio junto com todos, porém tentei adiantar o máximo de repetições possíveis, para tentar ficar próximo pelo menos. Bom, não foi possível, assim como fui alertado por Felipe antes de começar, minhas mãos abriram. Pele, sangue e suor tudo misturado na mão, segurar na barra era uma tortura, então a envolvi com esparadrapos e prossegui, tentando agora acompanhar o ritmo deles: 2 planches a cada 1 minuto. Também não consegui, o esparadrapo se rasgou e mais uma vez voltei a fazer os planches com as mãos nuas. Sempre que era tempo de fazer uma nova repetição, já imaginava a dor de pegar na barra, algumas vezes esperava o próximo minuto para ir fazê-la. Mas sabia que descansar aquele minuto a mais não mudaria nada, meus braços, ombros e pulsos estavam ótimos, somente pensar em segurar na barra com os calos abertos me fazia hesitar. Sabia disso e lutava contra, mas sempre custava a levantar e puxar mais dois planches. 

Após algum tempo, João saiu para comprar suprimentos, pedi-lhe ataduras, e quando voltou, já fui colocando elas nas mãos. A dor não sumia com esta ajuda, mas era mais suportável e assim voltei a tentar seguir o ritmo imparável de Daniel e Gustavo, desta vez mais focado. Logo que eles desciam da barra, eu subia. O tempo voava. Ao descer e anotar a série eles já estavam subindo de novo, era desgastante pensar que já era hora de voltar pra barra, mas os números aumentavam gradativamente com aquele ritmo.

Completei 120, e a cada 30 planches precisava ajeitar a atadura, mas dava pra continuar. Cada série uma pegada diferente a fim de encontrar uma confortável, porém, não havia posições confortáveis então o jeito era continuar variando, desgastar um setor por vez das mãos.

Toda vez que necessitava ajeitar a atadura, perdia o ritmo. 1, 2, 5 minutos me preparando para pegar novamente na barra, mas voltava e continuava. 

Dois planches por vez e após algumas horas, mais de 3 só pra constar, alcancei os 300. Não sabia como ou se terminaria, chegava a ter calafrios quando tocava na barra, mesmo com as ataduras. Mas ao ver aqueles ainda com seu ritmo, imparável e constante, chegar na barra e sem hesitar puxar 2 planches, com as mãos nuas, foi o momento da revolta, o que fazia a dor deles diferente? Suas mãos estavam 3 vezes piores que as minhas e ainda assim eles continuavam. Automaticamente você pensa, qual será o macete? Parei este pensamento no momento em que ele passou por minha mente, e neste mesmo momento, também sem hesitar, puxei 2 planches, retos, como deveriam ser sem buscar uma posição mais confortável, ou coisa parecida.

Eu sabia que aquilo que pensei é uma negação do que eles acreditam, do que acredito, por mais que tenha sido um pensamento passageiro, pareceu-me uma ofensa para eles. Treino com eles há tempo suficiente para saber que não foram “pegadas variadas” ou “posições mais leves” que os levaram ao nível de foco que eles estavam e sim os seus esforços, tanto físico quanto mental. E por isto naquele momento decidi, não havia um talvez eu termine o desafio, não quando meus companheiros de treino já haviam completado os 400, e prosseguiam rumo aos 1000. Não, eu completaria sim o meu desafio e os seguiria até onde fosse possível seguiria aquele estado de espírito em que eles se encontravam até onde o meu espirito conseguisse.

Bem, meu espírito não se manteve por muito tempo, toda aquela onda de motivação se foi junto com o novo calo que se abriu, não parei, mas meu psicológico estava a desabar a qualquer momento, faltavam 40 e neste momento os meninos foram descansar, quando alcançaram os 700 planches. Eu não tinha mais porque puxar a barra, não tinha mais seu ritmo para seguir, tudo apareceu de vez, fome, sono, dor de cabeça. “Se você parar agora não há problema algum”, era o que eu me dizia. Mas por tantas vezes dizer a tantos amigos que já tinham passado da metade e que dava pra terminar, então era no mínimo minha obrigação terminar. Pensar isto não me motivou, nem um pouco, mas prossegui, de dois em dois, com descansos livres, mas ainda pegando na barra, sem pensar e puxar, não havia outra maneira de subir, sabia que no momento da hesitação a desistência da série era certa, como aconteceu algumas vezes. Aos trancos, cheguei aos 398, e as 16h59min terminei os 400, neste momento o descanso dos meninos findava.

Fiz mais alguns planches, pouquíssimos, já não tinha ânimo algum de continuar, ao ver Gustavo procurar esparadrapos e não encontrar, ofereci-lhe as ataduras, fiz 2 planches de mãos nuas e desisti. Sentei e esperei o termino do desafio deles.

Ficava cada vez mais difícil para eles, já os acompanhei em muitos desafios, e esta era a primeira vez em que eu via a dor em seus olhos e a dificuldade em completar o desafio. Algumas vezes achei que não seria possível completar, mas eles continuavam lutando.

Bateu 19Hrs, foi o horário que Daniel disse que já estariam descansando, mas não estavam, estavam chegando na faixa dos 900, e prosseguindo.

Às 21:00 Daniel terminou e às 22:30 Gustavo pagou seus últimos planches, alguns a mais, dedicados a alguns motivos dele.

Não havia alegria em seus rostos, pelo contrário.

Logo após terminar, Gustavo com lágrimas nos olhos desabafou: falou sobre sua experiência e sobre suas dificuldades naquele desafio que custou a ser completado. Isso aumentou a angústia que sentia ao ver a dor em seus olhos, ao vê-lo balançar os braços em busca de forças durante seus esforços. Queria estar ali com ele, subindo, descendo, uma repetição por vez, queria ser forte para acompanhá-lo até o fim, para que ele soubesse que aquela dor era compartilhada e que ele conseguiria, nós conseguiríamos. Queria um espírito forte o suficiente para fazer nem que fosse aquelas ultimas 100, que ele tanto sofreu para completar, mas não tinha, talvez tivesse forças, mas meu espírito estava quebrado.
Este espírito é o que eu quero alcançar, suportar o que for necessário para vencer os obstáculos, lado a lado dos companheiros que se dispuserem a seguir esse mesmo intuito. 
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...